quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A poesia Infantil no Brasil

A poesia infantil enquanto gênero literário dirigido às crianças surge no Brasil apenas no final do século XIX. Antes, o que existe são poemas manuscritos, de circulação familiar, feitos de pai ou mãe para os filhos, ou escritos em álbuns de meninas e moças e, eventualmente, incluídos posteriormente nos livros de seus autores junto a outros poemas não escritos para o leitor infantil.
Dentre esses poemas, um dos mais antigos é um soneto de Alvarenga Peixoto (c. 1744-1792), mais conhecido por sua participação na Inconfidência Mineira, frustrado movimento político que tentou tornar o Brasil independente de Portugal, em 1789. Esse soneto inicia pelo vocativo “Amada filha” e, diz a tradição, foi escrito quando sua filha Maria Efigênia completou 7 anos (em torno de 1786). Nele, Alvarenga Peixoto aconselha sua filha a desprezar a beleza, as honras e a riqueza, cultivando a caridade, o amor a Deus e aos semelhantes. O soneto conclui recomendando: “procura ser feliz na eternidade, que o mundo são brevíssimos instantes”.

O acervo poético de Alvarenga Peixoto é um pouco maior do que três dezenas de poemas: na realidade, são conhecidos apenas 33 poemas seus. O acervo conhecido de Bárbara Eliodora (1759-1819), sua mulher, é ainda menor: conhece-se apenas um único poema, “Conselhos a Meus Filhos”, que, como o título sugere, é uma coleção de conselhos. Dentre eles, Bárbara Eliodora adverte que “a lição não faz saber, quem faz saber é o pensar” e recomenda o estudo das fábulas de Esopo.
Esses dois poemas – o soneto de Alvarenga Peixoto e “Conselhos a Meus Filhos”, de Bárbara Eliodora – apresentam um traço que será dominante na poesia infantil brasileira até a primeira metade do século XX: a presença de uma voz poética adulta, que se dirige a um leitor infantil, utilizando o poema como veículo de educação moral.
No século XIX, poetas como Gonçalves Dias (1823-1864) e Casimiro de Abreu (1839-1860) escrevem alguns poemas dedicados a crianças, incluídos em seus livros dirigidos ao leitor adulto. Afora essa produção de poemas esparsos, que não tem intenção de configurar o gênero poesia infantil, no final do século começam a surgir antologias para utilização na escola.

Pode-se dizer, assim, que, no Brasil, o gênero poesia infantil surge de braços dados com a escola, visando principalmente a aprendizagem da língua portuguesa. Não são os escritores que querem ampliar seu público, escrevendo também para crianças, mas os professores que começam a organizar e escrever antologias de textos em prosa e verso para utilização como livros de leitura escolar.
Dentre esses organizadores de antologias, um dos primeiros é o professor João Rodrigues da Fonseca Jordão que, em 1874, publica o Florilégio brasileiro da infância, reunindo poemas que não foram escritos originalmente para o leitor infantil. O Florilégio está organizado por tipos de poemas: sonetos, hinos, odes, baladas, elegias, epicédios, sátiras, epigramas, alegorias, fábulas etc., organização essa que reflete a importância dos estudos de retórica e poética na educação brasileira no século XIX.

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